domingo, 27 de junho de 2010

Falar a verdade é crime?

(publicado no Jornal Cidadela em 25/06/2010)


Caro Mário.


Cá estou eu atendendo vosso convite (de longa data por sinal), para assumir uma coluna neste valioso semanário. Olha, cabe a mim avisá-lo que não sou um escrevedor profissional no sentido de seguir regras gramaticais ou formalidades de como se escrever um artigo, mas sou muito franco e responsável nas coisas em que digo e faço. Espero não desapontá-lo, tão pouco os(as) distintos(as) leitores(as). A responsabilidade é grande, mas vou encarar essa parada.

Portanto, a partir desta data farei uso deste espaço para discorrer acerca de assuntos que me agradam e sob minha ótica, a “minha verdade”, sem contudo, querer convencer o(a) nobre eleitor(a) se está certo ou não. Será apenas a minha interpretação sobre determinado assunto, seja a política, esporte, ciência, algum fato histórico, economia ou sobre essa maravilhosa cidade que tanto admiro.

O primeiro assunto que irei abordar é sobre o título desta coluna, oriunda de uma situação real que aconteceu comigo no mês de março deste ano. Conversando com um amigo sobre a importância de termos posicionamento e postura sobre determinados assuntos, em um dado momento da conversa, o mesmo me chamou de “Super Sincero”, aquele conhecido e cômico personagem de tv. O comentário dele visava em me alertar para o quanto falar a verdade pode acabar em se constituindo em um “crime”.

O sentido foi figurativo, lógico, mas quem se lembra dos episódios do Super Sincero, vai lembrar que ele sempre acaba se dando mal por ser verdadeiro, ou seja, por dizer a verdade.

Este fato levou-me a algumas reflexões: Falar a verdade é ruim? Faz mal a saúde? É perigoso falar a verdade? É crime? Tem hora certa para se falar a verdade? Se sim, significa que devemos ser parcialmente verdadeiro em certas ocasiões? Ser verdadeiro não deveria ser uma virtude? Uma obrigação? E se eu não gostar de uma receita nova de um determinado prato que minha esposa preparou com esmero e carinho, deverei mentir “pra casa não cair?”

Fiquei bolado com essa parada e comecei a reporta-me a uma determinada cidade brasileira, onde nela parece ser proibido falar a verdade. Pessoas se doem, entidades se chateiam, os políticos fazem beicinho, daí, os incomodados (ou forças ocultas, se preferirem), apelam para as formas mais esdrúxulas, ignorantes, covardes e improváveis de castigar e perseguir quem se permite dizer a verdade, além, ainda, de ser taxado de inoportuno, arrogante, inconveniente entre outros adjetivos. Atuam nos bastidores e desta forma, se revelam o quão diminutos os são. Qual o crime em ser verdadeiro gente?

Tenho por hábito manifestar-me sobre vários assuntos, especialmente sobre os quais tratam da minha cidade que tanto admiro, Joaçaba. Não me oculto, procuro com isso contribuir por uma sociedade melhor, penso eu. Não sei se sou exemplo de alguma coisa aos olhos dos outros, mas procuro fazer a minha parte. Tenho amigos aqui que seguem esta mesma conduta.

Acontece que muitas vezes essa minha postura voluntária, acaba sendo a verdade que incomoda alguns. Como não tenho rabo preso com ninguém, sigo firme com as minhas convicções.

Falar a verdade não significa ser dogmático. O dogmático é aquele que impõe a sua tese como a verdade absoluta e não admite em hipótese alguma, questionamentos. Não é por aí, dizer a verdade é relatar um fato vivenciado (positiva ou negativamente) ou uma necessidade. Vou procurar dar um exemplo: votei num político tal e digo que o mesmo foi ruim, pois não asfaltou minha rua (minha necessidade). Para outra pessoa foi o máximo, pois criou novas linhas de ônibus, pois ela é usuária desse tipo de transporte. Logo, a “minha” verdade não é um dogma, e, como dito, é simplesmente um relato de uma experiência, fato ou necessidade.

Continuando, vejam só, certo dia li na Folha de São Paulo Online, uma matéria que tem a ver com esta temática, e, que em linhas gerais, era um caso de um Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão, que procurou adiar algumas audiências sob o argumento de que coincidiam com o horário dos jogos do Brasil. Meu Deus, pra que, mundo desabou sobre a sua cabeça.

- “Se mentisse, se escamoteasse, se adiasse o ato alegando qualquer outro motivo, passaria em brancas nuvens. Mas não, ousei em falar a verdade! Eu já paguei e pago caro por ser transparente. No mundo de hipocrisia em que vivemos é proibido falar a verdade. É que muitos preferem uma mentira oportuna que uma verdade escancarada, disse o Desembargador.”

Eis aí mais um exemplo de um “crime” em querer ser verdadeiro. Gente, a quem interessa a ditadura do silêncio, da omissão, conivência e da passividade? Só aos frágeis, antiéticos, aos covardes, quem tem rabo preso e aos fadados ao fracasso.

Mas alguém deve estar pensando: Existe hora e forma certa de se dizer a verdade. Concordo plenamente com isso, mas acontece que determinadas situações nos pegam atravessado. Talvez esse seja o “xis” da questão, quem sabe.

Pessoas das quais não conheço, me param no mercado, na rua, em festas para dizerem que gostam do meu posicionamento, da minha postura. Agora em maio na rodoviária de Florianópolis enquanto aguardava o ônibus de volta para Joaçaba, uma mulher que disse ser moradora do bairro Cruzeiro do Sul, e que também aguardava o dito onibus, me reconheceu e falou a mesma coisa.

Retaliações é algo pífio frente ao reconhecimento das pessoas e saber que falamos coisas das quais elas gostariam de falar e não têm oportunidade ou não sabem como, me deixa com a alma lavada.

Bem, o “Super Sincero” da tv não existe, mas sermos autênticos e verdadeiros é nobre, é ser grandioso, virtudes estas que parecem faltar a alguns daquela cidade brasileira.

Finalizando e respondendo a questão suscitada, apesar de algumas conseqüências desagradáveis, não é crime falar a verdade. Ter paz de consciência, respeito dos familiares, amigos e até de pessoas que você não conhece, não tem preço!

A verdade deve prevalecer sempre. Doa a quem doer!

Não é verdade?


Luiz Robério F. Dias

Arquiteto e um pacato cidadão de bem

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