terça-feira, 5 de outubro de 2010

OS CÃES LADRAM E A CARAVANA PASSA

(Publicado no Jornal Cidadela de 30/09/2010)



Novos ares têm soprado a meu favor, e direcionando minha nau para outro continente.

Já há alguns meses tenho dividido meu tempo, por questões estritamente profissionais, entre Joaçaba e Balneário Camboriú. Estou com uma duplicidade de domicílios, e esse vai e vem tem ficado cada vez mais recorrente. Meus compromissos profissionais têm me obrigado a realizar viagens constantes em busca do sustento da minha prole em outras praças, haja vista que Joaçaba encontra-se, no contexto geral, em um momento autofágico e ávida por reação, assim eu vejo.

Por este motivo, estou tendo grandes dificuldades para escrever meus textos. Para evitar a irregularidade nas minhas postagens e, em respeito a você, caro(a) leitor(a) que me tem prestigiado semanalmente, decidi transferir a continuação desta coluna.

Em razão de tal decisão, já comuniquei ao amigo Mário Serafim que, momentaneamente, precisarei abdicar deste espaço semanal que o mesmo gentilmente me disponibilizou.

Tenho muito ainda a discorrer sobre a nossa cidade. Cada assunto ao seu tempo. As informações chegam até mim por vários meios, inclusive com as valiosas contribuições dos meus fiéis colaboradores. O cordão umbilical ainda não será rompido.

Posso dizer neste momento, que no período em que aqui me manifestei, recebi diversos e-mails e uma ligação de pessoas que vêm acompanhando meus escrivinhamentos. Felizmente, 99% delas foram para elogiar, propor temas a serem abordados ou fazer denúncias sobre certos assuntos (que precisam ser melhor estudados para eu poder me manifestar). O corcunda sabe como se deita, entendeu?

Joaçaba tende a ser uma cidade promissora no futuro, no presente não. Vários fatores, a meu ver, corroboram para isso: forças ocultas, a baixa auto-estima de boa parte da sociedade, uma administração municipal que se revelou competente em campanhas eleitorais e que mais parece estar preocupada em ganhar eleições do que propriamente fazer com que Joaçaba seja uma nova cidade. A câmara de vereadores (que alias, tenho amizade com todos os vereadores), em função da posi-ção (ou não posição) dos nossos legisladores acerca de certos assuntos importantes, especialmente no que tange ao plano diretor e ao CDM (muito estranho isso). Até o Ministério Público ultimamente tem me causado estranheza na divergência de posições frente a certas situações, como por exemplo, a proibição de sons pelas escolas de samba, e nenhuma restrição aparente quanto ao recente rodeio.

É evidente que não sou dono da verdade, ou melhor do que ninguém. Já disse isso aqui várias vezes, mas não tenho rabo preso com ninguém ou com qualquer instituição ou entidade.

Manifesto apenas a minha posição pessoal sobre certos fatos, estando certo ou não. Sou transparente, não sou indeciso, não fico em cima do muro. Tenho posição firme. Certa ou errada, mas tenho, não sou vaselina.

Tão pouco fico escondido em castelos misteriosos, confabulando estratégias para influenciar decisões e os rumos da cidade, assim como não gosto também de birrinhas baratas de partidos políticos que ainda insistem na velha forma velha de se fazer política, e que nada de proveitoso agrega para a cidade. Isso tudo é postura de covardes, dos inimigos de Joaçaba, de lobos transvestidos de ovelhas.

Penso que a geração futura merece uma Joaçaba bem melhor do que temos hoje e como já foi no passado, especialmente livres de neoplasias malignas. Toda ondinha que os cidadãos de bem fizerem, no conjunto, vão criar um tsunami em prol do futuro desta cidade. Eu ainda acredito nisso.

Em relação ao título desta coluna, “Os cães ladram e a caravana passa”, revela um belo ditado árabe, contado da seguinte forma:

“Não importa o latido dos cães, não importa o barulho que façam, a caravana segue seu caminho apesar deles.

Existe uma estrela a ser seguida, um sentimento a ser preservado e nada vai impedir que a caravana siga seu rumo.

Mesmo que pare por alguns momentos, mesmo que alguns cães se julguem alimentados pegando os restos que caíram durante a passagem, a caravana segue seu rumo, mais fortalecida, mais coesa deixando cada vez mais longe o barulho dos cães esfomeados.

Uma caravana é feita de sonhos, de gestos, de atitudes, de longas vivências, de cumplicidade de sentimentos fortes, de amizade, de amor e de desejo.

Ela segue seu caminho, totalmente indiferente ao ganido dos cães enlouquecidos atrás de alguma cadela no cio.” (Sandra Nasrallah)

Não me interessa quem são os cães ou o tamanho da matilha. Eu sigo em frente com as minhas convicções, e como diz um ditado em uma certa cidade lá do sudeste, eu envergo mas não quebro!
 
 
Até breve amigo(a)!


Luiz Robério F. Dias
Arquiteto e um interessado pacato cidadão de bem.

Cel: 9978-0960
E-mail: luizroberio@globo.com
Twitter: @LuizRoberio
MSN: luizroberiodias@hotmail.com

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

MENTIRA NÃO É O ANTÔNIMO DE VERDADE. É CONTRADIÇÃO. VERDADE?

(Artigo publicado no Jornal Cidadela em 23/09/10)


Na verdade, o assunto de hoje é uma continuação do último artigo (quando a prática fica na teoria). Resolvi desmembrá-los para não haver conflitos epistemológicos entre os termos e, assim, evitar prejuízos em suas compreensões.

Mas quando tratei sobre teoria e prática, intrínseco ao texto estava a questão da mentira e contradição, que ora revelo.

Pelo que entendi nas minhas pesquisas internéticas, muitas pessoas consideram mentira como sendo o contrário da verdade (senso comum), inclusive eu. Não é nada disso e vou mostrar-lhe o meu ponto de vista sobre esse assunto, iniciando com a análise do seguinte versículo:

“Nenhuma mentira vem da verdade.” (1 João 2,21)

Partindo dessa afirmação bíblica, e sem querer debater sobre religião, por si só já definiria a questão suscitada: mentira não é o antônimo de verdade.

Ora, se mentira não é o antônimo de verdade, o que seria então? Intrigante a situação que me fez buscar outras explicações para tal impasse.

Intrigado, recorri ao Aurelhão para iniciar minha tese. Pesquisei sobre os seguintes significados que julguei, a principio, cabíveis: mentira, falsidade, verdade, omissão, contradição e divergência, em busca de dualidades que me fizesse chegar a uma conclusão (a minha).

Em linhas gerais, os resultados encontrados foram:

• Mentira: Ação ou efeito de mentir. Ludíbrio; falsidade; ilusão.

• Falsidade: Propriedade do que é falso. Mentira, calúnia. Hipocrisia; perfídia. Delito que comete aquele que conscientemente esconde ou altera a verdade.

• Verdade: Identidade de uma representação com a realidade representada; exatidão, autenticidade: verdade histórica. O que é certo, verdadeiro: quer sa-ber a verdade. Princípio certo, constante; axioma: ver-dade matemática. Boa-fé; sinceridade: falar com verdade. Expressão fiel da natureza: retrato de grande verdade. Em verdade ou na verdade, certamente, se-guramente, decerto.

• Omissão: Ato ou efeito de omitir. Falta, lacuna. Falta de ação no cumprimento do dever; inércia; desídia.

• Contradição: Ato ou efeito de contradizer(-se). Incompatibilidade entre alegações atuais e anteriores, entre palavras e ações: cair em contradição. Oposição, objeção. Espírito de contradição, disposição de contra-dizer incessantemente. Lógica, Princípio de contradi-ção, o princípio segundo o qual uma coisa não pode ao mesmo tempo ser e não ser; a regra que dá como ca-ráter da verdade a exclusão de toda contradição. Sem contradição, incontestavelmente.

• Divergência: Discordância, desacordo.

Nossa! Dentre tais definições, pude concluir que a mentira e falsidade podem ser consideradas sinônimas. Omitir algo, não significa necessariamente mentir. A contradição, além de parecer sinônimo de divergência, na parte que nos explica que “a regra que dá como caráter da verdade a exclusão de toda contradição”, me pareceu mais coerente e apropriada a aceitar contradição como o antônimo de mentira, especialmente quando na seqüência da pesquisa, me deparei com alguns depoimentos de estudiosos em comportamento verbal, que apontam para que mentiras, promessas não cumpridas e omissões podem ser compreendidas quando se investiga a relação entre o comportamento verbal, o que se diz (discurso), e o comportamento não-verbal, o que se faz (ação).

Ora, se isso realmente é verdade, então verdadeiro é afirmar que mentira é deixar de realizar algo que se diz (ação). Isso seria “a mentira”, o antônimo de verdade. Em outras palavras, contradição é fazer diferente do que se promete, do que se diz (teoria – o que se diz; prática – o que se faz, lembra?).

A contradição significa que duas posições não podem ser verdadeiras simultaneamente e no mesmo sentido. Uma coisa, como visto, não pode ser e não ser ao mesmo tempo. E nada que é verdade pode ser auto-contraditório ou inconsistente com qualquer outra verdade. A lógica da coisa depende desse simples principio. Esse, a meu ver, é o ponto chave da questão.

Pode-se dizer que há uma dicotomia, que seria falar a verdade, ou seja, descrever de forma coerente fatos acontecimentos comportamentos ou contar mentira, que seria apresentar uma afirmação pouco adequada ou incompatível com o que, de fato, ocorreu. Tanto falar a verdade quanto contar uma mentira, são comportamentos aprendidos e mantidos pelas conseqüências que pro-duzem, em primeiro lugar, para aquele que fala.

Interessante também, o artigo “a função política da mentira”, de Valton de Miranda Leitão, psiquiatra e psicanalista (http://www.celpcyro.org.br/v4/html/funcaoMentira.htm). A mentira usada politicamente tem uma trajetória tão longa quanto a história da pólis no contexto de suas intrincadas relações.

Tal autor insinua que a ética não pertence ao núcleo da ciência política e dá à mentira um estatuto especial no seu corpo teórico, na medida em que concede ao gover-nante direito ao uso de “meios excepcionais” para alcançar os fins almejados. Curioso, não?

A minha coluna está acabando e esse assunto é muito complexo para ser fechado neste espaço, mas se nenhuma mentira vem da verdade (como visto no versículo), então, concluo a minha tese, a principio, verificando que ser contraditório é mais grave do que ser mentiroso.

Ou estou mentindo?


Luiz Robério F. Dias
Arquiteto e um interessado pacato cidadão de bem.

Cel: 9978-0960
E-mail: luizroberio@globo.com
Twitter: @LuizRoberio
MSN: luizroberiodias@hotmail.com

QUANDO A PRÁTICA FICA NA TEORIA

(Artigo publicanado no Jornal Cidadela em 16/09/10)

Esta semana estava navegando pelo blog http://napraticaateoriaeoutra.org/, um blog sobre política e afins, meio esquerdoso, social-democrata não-tucano (nem anti-tucano), que acredita que o PT (e a rede de movimentos sociais que o compõem), ainda pode ser salvo de si mesmo, isso tudo dito pelo próprio dono do blog, achei interessante arriscar a escrever algumas linhas sobre o assunto.

Esquivando-me dos embates teóricos quanto à definição de Prática e Teoria, defino aqui, Prática como sendo a realização de uma teoria concretamente, enquanto Teoria é o conhecimento especulativo, puramente racional.

Quem de nós nunca prometeu começar uma dieta “na próxima segunda-feira” e não começou? Ou quem já prometeu para si mesmo que vai largar o vício do cigarro e não larga? Ou ainda, na virada do ano novo, durante a queima de fogos, o noivo para enrolar sua noiva, promete se casar em agosto (a gosto de Deus).

Não é curioso observarmos o porquê que muitas das coisas em que os homens dizem, pensam em fazer ou pior, prometem fazer, não o fazem?

Bem, aprendi que muitos podem ser os motivos para que isso aconteça: Pode ser por preguiça, por motivos psicológicos, por falta de planejamento, por serem promessas intangíveis para alguns, por motivos financeiros e, entre tantos outros, o político.

Ah, o político. Muitas das coisas em nossas vidas envolvem a política, não necessariamente a política partidária, mas a política do ponto de vista da estratégia e da negociação.

Vamos a um exemplo prático. Quando os galhos da árvore do seu vizinho invadem seu terreno e começa a sujar seu quintal, para que não haja desentendimento entre as partes, é necessário de que o incomodado bole uma estratégia para abordar o incomodante a fim de negociar a poda dos galhos sem conflitos. A isso, podemos dizer que é a política da boa vizinhança.

Se no caso do exemplo supra, a poda dos galhos da árvore for mais importante do que a manutenção de um convívio salutar e harmonioso com seu vizinho, então temos aí política da anarquia, da má educação, da falta de bom senso.

De uma forma ou de outra, a política, seja ela qual for, está sempre presente em nossos cotidianos.

Agora, quando a política é a partidária, aí fedeu! É na política é onde mais ouvimos promessas que muitas vezes, mais muitas vezes mesmo, não são colocadas em prática, e acabam ficando na teoria, não é mesmo?

A necessidade do poder pelo poder leva os políticos ao descrédito, por conta das promessas não cumpridas. Isto é a prática.

Estamos no período eleitoral onde é possível observarmos na TV que ainda existem alguns candidatos que nem sabem ao certo as atribuições do cargo a qual pretende se eleger. Tenho o privilégio de poder assistir também a propaganda eleitoral do Rio Grande do Sul e São Paulo. Fico pensando quantas daquelas propostas sairão da teoria e se tornarão em ações concretas.

No nosso caso caseiro, temos uma administração municipal que tem um plano de governo a ser cumprido. A sociedade aguarda e espera acreditar, que as promessas feitas na campanha pelo prefeito Rafael Laske, não fiquem no campo da teoria.

Algumas promessas contidas no tal plano de governo, têm gerado grandes polêmicas em nosso meio, tais como o Juros Zero que o prefeito Rafael andou noticiando nesta semana de que irá implementá-lo no próximo ano e o incentivo a proteção dos animais.

O Juros Zero, um projeto bom na teoria, visa oferecer suporte aos pequenos empreendedores em contraírem pequenos empréstimos em bancos, e com os juros bancados pela prefeitura. Ora como é de conhecimento público, o diminuto poder de fogo financeiro da administração tende a tornar tão boa iniciativa em difícil execução prática, ou seja, tende a ficar na teoria. É preciso que este projeto seja sustentável e uma ação contínua blindada dos costumeiros cortes financeiros quando o bicho pega no paço municipal.

Em relação ao incentivo a proteção dos animais, o modus operandi por aqui, é autorizar o funcionamento de circos e rodeios com uso de animais, contradizendo a prática (promessa de campanha), ou seja, também teoria.

Para que Joaçaba possa ser efetivamente uma nova cidade, é preciso muito mais do que ações convencio-nais, teóricas ou comprometidas com “forças ocultas”, como em alguns casos dá impressão.

A sociedade espera muito de seus governantes e ficam na expectativa de que algo bom vai acontecer. Nenhum político é perfeito, evidentemente, mas ele está ali pra ser aprovado ou não pelos cidadãos. Por isso é importante, se não puder fazer tudo que pedem, que ao menos concretize tudo o que fora prometido em campanha.

Não existe um político teoricamente bom. Não existe município teoricamente bem administrado. Não existe sociedade teoricamente satisfeita. Não existe isso de eu dizer que teoricamente vivo. A teoria tem que se concretizar na prática. A prática não pode ser a teoria. Porque ainda é tão longa a distância entre a prática e a teoria? Entre o discurso e o concreto?

Na prática, você concorda que Joaçaba não pode ser teoria?


Luiz Robério F. Dias
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