segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Subir pra cima tá certo?

(Publicado no Jornal Cidadela em 22 e julho de 2010)
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Eu diria que sim, veja só, a grande maioria das coisas que precisamos resolver em nossas vidas aqui em Joaçaba, nos leva ao centro da cidade. É banco, é médico, é prefeitura, é o comércio, o carnaval e tudo mais.

O caos está instalado. Trânsito insolúvel, calçadas diminutas e mal cuidadas, assim como muitas edificações. Na real, o centro está obsolescente e insalubre.

Muito se fala em levar o "crescimento” para a parte alta da cidade, ou seja, para os bairros Nossa Senhora de Lourdes, Cidade Alta, etc, mas só falar a coisa não vai acontecer, tem que ter ação, e rápido.

Mas como?

A resposta é o plano diretor, pois ele tem essa função de direcionar, maximizar ou restringir o crescimento de uma cidade, que, aliás, é só o que ele tem feito ultimamente. É através dele que essa mudança deverá ser induzida e estimulada.

Acontece que a região alta da cidade não tem como absorver tudo como se pensa, e digo mais, será que tais comunidades concordam com isso?

É preciso uma estratégia muito maior, como a que vou propor, mas como medidas iniciais e básicas, deve-se restringir de imediato algumas atividades aqui no nosso adensado centro, tais como, novas agências bancárias, farmácias e drogarias. Esses tipos de atividades devem ficar nos bairros, assim evita-se que as pessoas se desloquem para o centro, exclusivamente para isso.

Outra medida simples e que ninguém fala por aqui é a criação do Plano Diretor Comercial e Industrial, que nada mais é do que um levantamento geográfico e quantitativo de tipos de comércios e empresas, a fim de se verificar onde há saturação ou deficiência para que essas atividades sejam deslocadas para outras áreas, conforme as possibilidades. Como beneficio adicional a esta medida, se evitaria a concorrência predatória desnecessária onde quebra quem já está estabelecido e não vinga quem está iniciando. Quem sabe a CDL e a ACIOC, juntamente com a prefeitura através da sua Comissão Municipal de Desenvolvimento Econômico, não se unam para tratar disso?

A medida mais séria, do ponto de vista da coragem, mas não da sua complexidade técnica, seria criar, por algum tempo, restrições nos índices urbanísticos (gabarito, taxa de ocupação, afastamentos, índice de aproveitamento de área e taxa de permeabilidade) da área central cidade. Tal medida desestimularia provisoriamente o crescimento neste local, ao passo que, ao contrário, ou seja, sendo generoso e responsável com tais índices urbanísticos em outra(s) região(ões) da cidade, paulatinamente faria com que as atividades da área central seja direcionado para outra(s) região(ões), de forma mais racional e organizada.

Ainda, para aqueles que acreditam que existem mais coisas diante nossos olhos do que tão somente a ponto de nossos narizes, proponho aos técnicos responsáveis que ora estão costurando o atual plano diretor, que ampliem o limite da nossa área urbana para termos um fôlego maior por alguns anos, uma espécie de “segunda chance” para a cidade, e também, conjuntamente com o Denit, que seja repensado o traçado da BR-282 a partir do trevo de acesso sul e até a altura da Vila Remor, fazendo-o passar por detrás dos bairros Claradélia e do Contestado.

Não, não tô maluco não, raciocine comigo, fazendo isso, ganharíamos uma grande nova avenida central para a cidade, criando o Centro Novo nesta região, onde poderiam ser construídos novos loteamentos, um novo centro comercial e institucional, entre outras coisas necessárias ao longo e no entorno do trecho remanescente da BR-282, de forma planejada utilizando os erros cometidos ao longo da história como norte para os acertos futuros.

A cidade, assim como o corpo humano, nos dá indicativos de que há algo errado com sua estrutura. Quanto maior o tempo de reação, mais doentes ficamos, quer dizer, a cidade vai “adoecendo”, logo, mais difícil e onerosa será sua cura.

Tal afirmação é melhor ilustrada pela arquiteta e professora doutora Vera Rezende em seu livro Planejamento Urbano e Ideologia, onde a mesma diz:

“Os espaços livres, avenidas, praças e jardins são os pulmões da cidade, o sistema respiratório. O sistema circulatório é o sistema viário, que reparte para todos os pontos do corpo urbano a substância necessária à vida e converge para o centro da cidade, o coração urbano. Até a própria rede de esgotos identifica-se com o aparelho digestivo. É necessário, portanto, que seus órgãos estejam em estado de exercer as funções que lhe são próprias.”

Uma cidade muito tempo sem obras estruturais, no futuro se obriga a realizar grandes intervenções como está precisando agora a nossa Joaçaba.

Pois é, ficar só pensando, falando e não agir concretamente achando que o “crescimento” vai acontecer sozinho para a Cidade Alta, pode ter certeza que a coisa não vai e só tende a piorar cada vez mais. Temos que ter o controle e ação sobre a situação, pois ao contrário, acontece como dito lá em 1985 pelo arquiteto Robson Casado de Góes também em seu livro, A cidade do Futuro: Iniciação ao Urbanismo do Século XXI:

“Está havendo significante inversão de valores: em vez de adaptarmos a cidade às nossas funções, estamos adaptando nossas funções à cidade. Com este proceder, o homem deixa de criar a cidade e a mesma inicia seu domínio sobre o homem”.

Não é o que está acontecendo? Não estamos sendo obrigados a nos adaptarmos aos espaços que nos “fugiram” do controle? É exagero?

Bem, as propostas para levar o “crescimento” futuro da cidade “para o alto” através de uma grande intervenção urbanística, estão lançadas e só precisam de polimento e detalhamento para serem debatidas com a sociedade. Temos que pensar grande, temos que pensar avante e precisamos de um prefeito com aquilo roxo para dar o ponta pé inicial, ir atrás de parceiros, do Denit, de recursos e tudo mais para a construção desse novo e necessário cenário.

Por isso, subir pra cima é indispensável e está certo mesmo, pensando e agindo com critério, responsabilidade, inteligência, e sem medo de ser feliz.

Luiz Robério F. Dias
Arquiteto e um interessado pacato cidadão de bem.

9978-0960 ou luizroberio@globo.com
Twitter: @LuizRoberio

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